quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

ALGURES, NO FRIO




Saí à rua e
Tudo o que encontrei
Foram ecos.
Ecos dos meus passos
No granito rijo
Ainda molhado da chuva.
A ladainha das casas
É o propósito da aldeia,
O cheiro a madeira queimada,
As lareiras e fumeiros
Plenos de um orgulho ancestral.
O silêncio é quase profundo.
Ouve-se o rastejar de pés
Cansados, novos ou idosos
São pés cansados.
Arrastam os bancos
À beira da lareira e
Ouvem-se estórias de avós.
Adormecem as crianças
Nos aventais de colo
Correm festas nos cabelos.
A pele fica quente
A lareira é o centro
Ouve-se crepitar a lenha,
A tenaz arrasta os toros
Une as brasas num vermelho vivo.
Uma malga de sopa,
Aquece um ou outro estômago
Mais esfaimado,
Com um travo a fumo,
Do calor lento das panelas de ferro.
As chouriças e presuntos,
Jazem penduradas no tecto,
Num leito de madeira,
Indo curando a fome futura
Com uma lentidão ainda maior.
Uma navalha, um casqueiro
Um tomate e pedras de sal,
Uma malga de vinho tinto.
Um primeiro fechar de olhos.
A cozinha escura,
A roupa impregnada
Ao cheiro da fogueira.
Um silêncio feliz,
Resignado e duradouro.
Fim de dia na aldeia.
Algures, no frio.



09FEVEREIRO2017

Sem comentários:

Enviar um comentário