terça-feira, 11 de março de 2014

ESTES CORPOS




Sei de ilhas abandonadas,
filhas de continentes apagados,
submersos em vidas desnecessárias.
Toda a Primavera renasce, um timbre
de aves em voos de ida e volta.
Sempre retornam, sem saudade,
só impulso de uma existência prevista.
Só os andaimes não são naturais,
seguram raízes estruturais do corpo,
adormecido pelo embalo do tempo.
Já não há amor resistente, paixões
seguem o vento, dependentes da bolina.
Navegou o eremita de todas as margens,
sem rumo, sem prumo, nem atracção.
Perdi o magnetismo de todas as bússulas,
navegar por navegar, também alimenta
o rigor de qualquer habituação gratuita.
São os recantos de todas as ilhas.
Isolado fica o desespero, ultrapassado
pelos sons platónicos de mais um dia banal.
Seria óbvio um estatuto superior, o divino,
de Baco a Hera, juntos, nús em luxúria.
Já só sinto os elementos, fracos,
sem tempestades de maior. As brisas,
são o erotismo e tesão da minha pele,
amarrotada pelo peso do teu corpo,
esfregando e espremendo a minha sede,
como um rio que passa por mim,
onde te toco todas as margens,
e entro em ti, naturalmente,
como um vulcão incandescente,
até ao soltar da lava.
São ilhas estes corpos,
isolados não inertes,
saborendo a lentidão.


11MARÇO2014

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