terça-feira, 7 de janeiro de 2014

AS MURALHAS TAMBÉM CAEM





Apetece-me andar perdido.
Perder a noção de equilíbrio,
perder a noção da distância,
perder a noção de onde estou.
Apenas aprender pelo toque,
perder a memória sensorial,
imagens, cheiros e sons.
Perdido em um labirínto,
onde só as mãos me guiam,
onde não saiba o destino,
onde os olhos se esforcem,
mas nada reconheçam.
Andar por andar, sem saber
quando e onde é o destino.
Faz-me lembrar um pesadelo.
As crianças têm muitos, algumas.
Por vezes, fazemos por andar perdidos.
Por vezes, criamos mundos paralelos,
pelo simples facto deste não ser ideal.
A admiração da natureza é o escape,
condicionado pela crueldade do homem.
Tudo o que amo defendo,
com o entusiasmo de uma muralha.
As horas são acto vitalício,
não só cruel no envelhecimento.
As muralhas também caem,
destruidas e abandonadas um dia.
Viram ruínas que, a gentalha aprecia.
A história é um passeio obrigatório,
tudo fica quase que incompleto.
Passado, é a impossíbilidade
de poder voltar atrás.
Aprende-se, o que se quer,
o que se pode, ou até nada.
Apetece-me andar perdido,
habilitado de uma certa forma
a observar tudo o que esqueci,
tudo o que não senti.
Eliminar da memória a crueldade,
que me tocou alma e corpo.
Servem-me e ficam as palavras.


07JANEIRO2014


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