segunda-feira, 16 de setembro de 2013

DIÁLOGO COM OS PÁSSAROS




Chamaram-me os pássaros hoje,
saltando mesmo em frente a mim.
Chamaram-me à razão,
num piar desgarrado e insubmísso.
Arrepiaram-me o corpo, com voos
rasantes e fortes bater de asas.
Senti como um aviso derradeiro.
A surpresa tornou-me estático,
sem som nem gestos de repulsa.
Eu sei, eu sei que a natureza avisa,
pelas formas mais deslumbrantes.
Foi este deslumbre do bailado
que me parou os passos gastos.
Sei que penso em demasia,
mas este acordar foi diferente.
Sentei-me com eles na relva e,
na desproporção dos corpos,
ainda rimos entre nós.
Falaram de mim e,
dos pássaros que sabem.
Sabem dos homens que pensam,
porque pensam demasiado.
Sabem de tudo o que tem dor,
porque fogem voando para longe.
Sentem a auréola da desistência,
que não suportam ver perdida.
Falaram-me das folhas,
de morte e renascer.
Abriram um buraco na relva
onde enfiaram os meus pés,
e lhes chamaram raiz.
Chamaram-me "árvore nova",
efémera mas resistente ao tempo.
Mostraram-me que os braços,
são poiso das aves, como os ramos.
Sentaram-se nos meus ombros,
fabricaram ninhos que criam vida.
E falámos. Oh Deus se falámos,
sobre tudo o que aprendi.
Apenas a natureza nos entende,
porque esquecemos todos
que fazemos parte dela.
Ficaram os sopros das penas,
os arrepios da convicção,
o regozijo de estar vivo.
Foram os pássaros,
que me falaram um dia,
que a vida não tem fim.
Um diálogo que venero,
no interior da minha alma.


16SETEMBRO2013


2 comentários:

  1. Ai, eu que que deveria, por vezes ser veado para poder saltar a cerca entre este mundo imposto e o mundo mágico, esse de que fala aqui, o da vida real... (nós é que semeamos um ópio que cria um nevoeiro nos nossos olhos e náo nos deixa ver, nem sentir a realidade de tudo isso), senti tão grande aifinidade com o que descreveu aqui. Muito bom!

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    1. Grato minha querida amiga! é uma forma de agradável dependência esta, a da poesia! Fico contente por gostar!

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