domingo, 11 de agosto de 2013

(IM)PREVISIBILIDADE




Adoro sentir o ar encher-me os pulmões.
Abrir uma janela no fresco da manhã,
deixar entrar a vida, a que o corpo precisa.
A vaidade da imagem ainda é secundaria,
não ultrapassa o prazer de sentir a manhã.
Não prefiro nada a esta hora,
que faça sol, chuva, frio ou o que seja.
Respirar profundamente alimenta-me a alma.
A primeira forma de concentração,
o arrumar das primeiras palavras,
tirar do arquivo as primeiras imagens.
Começar de novo, voltar a sentir
todas as sensações que tomam lugar,
ocupando locais certos no meu corpo.
O amanhecer funciona como um
recarregar de baterias numa máquina gasta.
Recomeça o movimento das engrenagens.
O cérebro activa as sinapses que se espalham,
ligando todos os interruptores do corpo.
A alma, encolhe-se em si própria,
escondendo as actividades disfarçadas,
que fazem funcionar a personalidade.
Aos poucos, retomo os rituais,
toda a minha previsibilidade emerge.
Até que recomeça o pensamento.
Nesta fase do dia, finalmente vivo,
libertando toda aminha imprevisibilidade,
passo a ser distinto dentro de mim.
Um Eu diferente do outro que sou.
Até desligar os sentidos, fechar os olhos,
voltando a ser um outro, que não Eu.
Talvez me torne previsível,
não sabendo o proximo passo.

11 AGOSTO 2013

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