domingo, 26 de maio de 2013

CAIXA DO TEMPO



Quando tudo ficou turvo,
previ um final sem interesse;
ficam as formas que nunca quis.
Uma caixa de madeira. Bolorenta,
Que guardo há já tanto tempo.
Cheia de coisa vãs para o comum,
Mas para mim tão preciosas.
Vou criar um enterro que não existe.
Tapar o meu tempo, com pás de terra,
Mesmo junto a esta árvore que plantei.
As raízes crescem cheias de memórias.
As rugas da árvore são cartas escritas.
Os ramos, crescem harmoniosos, são como livros
Que retornaram ao espaço original.
Até brinquedos guardei na caixa do tempo.
De madeira, troncos crus burilados.
Apetece-me ficar à espera.
Testemunhar o crescimento desta árvore,
Sentir as ideias crescer em folhas verdes.
Ramificar todo o conteúdo desta caixa,
Contando os amigos de sempre e de nunca.
Uma escola precoce e enfadonha, como o tempo.
A minha caixa do tempo, aqui enterrada.
A desilusão que alguém terá de sentir,
Quando a abrir, quando desviar as flores
E folhas secas que a acabaram por cobrir.
Deixei pegadas na minha memória,
Presas pela madeira bolorenta da idade.
Apetece-me ficar à espera,
Mas não sei se aguento mais tempo.
Falta-me a paciência da vida.
O sorriso da felicidade enrugou.
A dor já não a sinto, habituei-me.
Sei que tudo se tornou turvo,
Não pelo que vejo, porque ja não vejo.
Fiquei impotente ao tempo,
Ao declinar da juventude irreverente.
Guardei tudo numa caixa.
Enterro-a aqui. Junto a mim;
Fica a história que já não ligo,
No crescendo das minhas raízes.


26 MAIO 2013 

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