terça-feira, 30 de outubro de 2012

ALICE NO PAIS DAS ARMADILHAS




Um brilho no olhar atrai a fantasia.
Criança perdida, esfarrapada pelo destino
brinca, sorri como ninguém consegue sorrir.
Um coração feliz, de talvez pouca felicidade
que a mim e a tantos difícil será entender.
A felicidade simples de não ter nada,
mas abraçar a fantasia como alimento
que sirva de exemplo ao abastado, aos felizes
materialistas, com sorrisos comprados
preenchidos por uma sociedade insegura.
O escárnio e desprezo fingidos, não passam
de admiração e medo, pelo poder das crianças.
Seria bom não crescer! Manter a fome viva
com uma alma cheia de alimento puro.
A inocência e rigor da necessidade,
consegue facilmente um pequeno milagre.
O milagre da vida dispersa, por tantas outras
tão diferentes entre si, mas que no final
todas elas vivem, consumindo o mesmo ar,
andando pelas mesmas ruas, no frio diferente
que acaba sempre, por aquecer a resignação.
Por mais que tente disfarçar a indiferença,
não consigo ignorar a frieza encantadora
na fantasia que alimenta aquele olhar, um brilho
tão próprio e inigualável como o desta criança.
Talvez sem família, sem casa e sem amor,
sem tudo a que tem direito, por decreto universal.
Talvez se chame Alice; talvez se chame os nomes
das fantasias que vive diariamente, nas ruas
desertas, escuras e repletas de nada. Habituada
ao breu, que a noite torna num único e seco sorrir,
preenchendo as fábulas e historias encantadas,
escondidas sob o cartão que lhe cobre a noite,
talvez só assim, se liberte deste pais das armadilhas.
Um sonho será talvez, para sempre um sonho,
mas a intensidade será certamente maior,
quando a pobreza se torna forma de vida.

30 OUTUBRO 2012 

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